Não deixa de ser interessante essa prática de em vez de punir os criminosos, procurar reintroduzi-los ao convívio social.
Bastante interessante.
Uma prática bonitinha mesmo.
O cidadão comete um crime bárbaro e recebe um apoio estatal.
Recebe um tratamento com o dinheiro das vítimas.
Estão mudando até os nomes das cadeias.
Chamam-se agora “Casas de Recuperação Social”, ou qualquer coisa assim.
Uma maravilha.
O cidadão incendeia um ônibus com pessoas dentro e não merece que se faça justiça.
Merece um tratamento.
Furta a verba destinada à merenda escolar das famintas crianças brasileiras, e não vai mais para a cadeia.
Vai para uma casa de recuperação.
Algo parecido ao caso de obesos que precisam permanecer algum tempo em um spa, para emagrecerem.
Um spa.
Não demora e estão chamando cadeia de spa.
Será, contudo, que isso funciona mesmo?
Será que o efeito dos métodos praticados nesses estabelecimentos de recuperação é duradouro?
Eles realmente se reeducam?
Passam a não ter desvios que os possam levar novamente à criminalidade?
Ah! Não sei.
Bom, mesmo assim não deixa de ser interessante.
Ouço falar que tais métodos consistem em oferecer períodos gradativos de convivência social como; passar uma semana em casa durante o dia das mães, outra semana no dia dos pais, mais uma nas festas de fim de ano e por aí vai.
Isso quando um juiz não resolve liberar definitivamente.
Sim, tem também a tal da progressão das penas. Regime semi-aberto, regime aberto, regime escancarado ou qualquer coisa assim.
Bonito.
Só não ouço é falar que existe um trabalho estudado e elaborado durante anos por especialistas e capazes no assunto, como psiquiatras, psicólogos ou coisa assim.
Parece que tudo é determinado por um juiz.
Um juiz sabe mesmo de tudo, ora.
Não há necessidade do trabalho de alguém melhor capacitado.
Ou eu é que sou mal informado e todo preso tem realmente um atendimento nesse sentido?
Um personal psicólogo.
Se assim for, peço desculpas pela ignorância.
É que sou mesmo muito ignorante.
Fico imaginando, contudo, se haveria tantos profissionais nessa área para uma demanda tão grande.
E se dizem que não há dinheiro para construir prisões para uma população carcerária com as proporções atuais, como pode haver para pagar esses profissionais para que possam ser desenvolvidos, caso a caso, um trabalho que requer uma atenção tão individual e minuciosa?
Ou é tudo só conversa fiada?
Que se coloca o criminoso nas ruas novamente sem lhes ter oferecido nenhuma forma de recuperação?
Besteira.
Isso são detalhes.
Importante é a beleza do método.
Como dizia Florbela Espanca e nem sei se foi ela mesma quem disse: “Examinar em detalhes é criar novos detalhes”.
Mas agora, um pensamento me sobressalta.
Como se recupera um indivíduo com curso superior, Bacharel em Direito, por exemplo, que teve toda uma educação orientada para o bem, e subitamente é preso por ter roubado alguns milhões de reais de um cofre público que não estava muito bem vigiado?
Podem os profissionais que analisam a mente humana, evidenciar esse tipo de comportamento e reeducá-los?
Ou consideram que isso é pura sem-vergonhice?
E, se não necessitando de tratamento algum, está apto a conviver novamente com a sociedade.
Será então que é por isso que esses criminosos de colarinho branco, não costumam passar mais de vinte e quatro horas numa prisão?
Deve ser.
Deve ser sim.
Ora, uma prisão não é mais voltada para punir o criminoso, mas sim recuperá-lo, e sendo o caso de um elemento desse tipo, basta uma leve repreensão e aconselhamento.
“Não faça mais isso, meu filho”. “Não é muito bonito”.
E pronto.
Pode ir para a rua.
Deve ser esse o motivo.
Deve ser.
Uma combinação da eficácia dos modernos métodos de psicologia e justiça.
Uma maravilha.
Talvez um dia, no caso dos que concluíram seus cursos superiores em universidades estatais, possam até requerer judicialmente uma indenização alegando que a má qualidade do ensino nesses locais foi que os conduziram ao crime.
A ineficácia do nosso ensino público. Gerando criminosos diplomados.
Uma indenização.
Sim, podem mesmo um dia requerer.
O cara é doutor e tá roubando.
Teve influência na faculdade.
Já o caso de um delinqüente que não possui nem o primário, deve complicar um pouco mais, óbvio.
“Porra cara, só porque você está com fome, acha que pode roubar um pote de manteiga? Enfiem esse vagabundo na cadeia”.
Deve ser o que aquele juiz que condenou a empregada doméstica Angélica Teodoro pensou.
Com toda a razão, obviamente.
Imagina a trabalheira que poderia dar a recuperação dessa moça. Os gastos para o cofre público.
Ia apodrecer na cadeia, não fosse o apresentador Datena.
Mas outra idéia me sobressalta agora.
É justo ainda termos que pagar um psicólogo para quem meteu a mão no dinheiro da merenda escolar dos nossos filhos, mesmo que tal pessoa tenha sempre vivido numa condição familiar, financeira, escolar e social acentuadamente superior à maioria dos nossos patrícios?
Porra!
O ministério se chama Ministério da Justiça.
Não se chama Ministério da Recuperação ou qualquer outra coisa nesse sentido.
Não.
Chama-se Ministério da Justiça.
E não é exatamente isso que entendemos por justiça.
Ou eu, pelo menos.
Bem... Eu sou um pouco mais ignorante, como já disse.
Contudo não seria bem mais interessante que essas azêmulas que dão nome a nossas instituições observassem colocações mais adequadas?
Se a justiça agora, não tem o sentido único de justiça, mas de socialização ou reintegração dos criminosos à sociedade, convém alterar os nomes dos bois, acredito.
Você não acha?
Que tal Ministério da Reintegração Social?
Bonito.
Mas não Ministério da Justiça. Pois tal nome perde seu real sentido. Fazer justiça é compensar perdas ou sofrimentos causados (salvo grande engano causado pela minha ignorância já citada), e não dar nova chance de cometer tudo de novo recaindo ainda os custos com a reintegração desse criminoso, ao bolso das próprias vítimas. Afinal, os impostos que paga, servirá para o tratamento de tais delinqüentes.
Contudo, mesmo que alterem os nomes, não fico totalmente convencido.
Posso até entender e aceitar quando os casos são de criminosos que tiveram uma infância cheia de privações, são vítimas de um total abandono do Estado, ou algo semelhante.
Mas outros não.
Vejamos o caso daquele desembargador de Rondônia, por exemplo.
Aquele que era presidente do Tribunal de Justiça (futuramente Tribunal de Recuperação).
O cidadão tem um alto grau de escolaridade. Um salário quase irreal se comparado com a grande maioria dos brasileiros.Pago inclusive por esses mesmos.Todas as mordomias possíveis.Até motorista na porta.
E, no entanto é desonesto.
Um grandíssimo salafrário.
Não tem o menor respeito pelos milhões de reais que foram subtraídos de nossos filhos para que lavasse uma vida a mais confortável possível...
E agora ainda temos que pagar um psicólogo para ele?
Isso é justiça?
Não, meu amigo.Isso não é justiça.
Isso não é justiça, não é método de reintegração, não é porra nenhuma.
Isso é patifaria.
E das grandes, meu amigo.
Das grandes.