SOMBRAS SOMENTE

15 abril, 2008
  NÃO EXISTEM LABIRINTOS


A história é conhecida e pertence à mitologia grega.
Tem, contudo, versões um pouco diferentes.
Minos, rei de Creta, pede - ou obriga - a Dédalo, inventor de grande fama, que construa um labirinto para aprisionar o fruto do adultério de sua esposa Pasifae com um touro, o Minotauro.
Aqui começa o problema.
Ora, se Minos pede para construir um labirinto, não poderia então ser Dédalo o inventor do mesmo e pode ser ‘perdoado’ por um engenho tão inútil, já que labirintos não existem.
Alguns escritos indicam, no entanto, que Minos pede ao inventor que construa uma prisão, e a Dédalo fica o crédito do tolo invento.
Fico imaginando o quanto dessa história pode haver de Heródoto que viajando pelo Egito pode ter se maravilhado com as edificações de Moeris.
É claro que Heródoto levou sua vida em época bem posterior a Minos, mas havemos de levar em conta a força de suas narrativas.
Também é conveniente lembrar que construções com corredores confusos como a encontrada por Sir Arthur Evans bem eram comuns nos vales do Nilo.
Seguindo a linha de que Dédalo é o inventor do labirinto e considerando sua genialidade possível de construir um que fosse ‘autêntico’, lá fui perder algumas noites de sono para construir emaranhados de corredores que pudessem comprovar a eficácia do invento desse grego a quem se atribui a invenção, entre outras coisas, do mastro e da vela.
Infelizmente não existe didática alguma que trate de labirintos e como gosto de ‘métodos científicos’, tive que rabiscar alguns.
Iniciei classificando os labirintos em fechados ou abertos.
Isso é de grande importância, pois astros podem servir para a ‘navegação’ nos labirintos abertos, desses que existem nos parques franceses. Nos fechados, os métodos deverão ser outros.
Excluí para o estudo os labirintos com só uma entrada-saída já que o de Creta não era dessa forma, pois embora Teseu tenha retornado pela entrada com o auxílio do novelo, o próprio Dédalo com seu filho Ícaro lograram fuga por outra saída, a que dava para o mar.
Ademais tentar encontrar uma solução para sair de um labirinto ‘autêntico’ com só uma entrada-saída é mesmo perda de tempo. Basta seguir o ‘ingênuo’ método de Ariana, utilizado por Teseu.
Depois de classificados vi a necessidade de dividi-los em grupos. Os retos (que possuem corredores que se quebram em ângulos retos), os curvilíneos (sem nenhuma angulação) e os mistos (com curvas e ângulos como o da foto dessa postagem).
Cada um deles deveria requerer um método diferente para encontrar a saída.
Mas há de se pensar em labirintos com vários patamares como poderia ser o de Gortínea, já que Sir Arthur Evans sugere que o próprio palácio de Cnosso era o mitológico labirinto e Dédalo bem poderia se utilizar desse recurso para complicar ainda mais a busca da saída.
Ou seja: Mais dois subgrupos.
Resumindo: Haveria de encontrar doze métodos distintos para sair de labirintos. Duas classes vezes três grupos vezes dois subgrupos.
“Tô estrepado”, pensei.
Pode ser relativamente fácil sair de um labirinto ‘autêntico’ da classe abertos e do grupo retos tomando os astros para navegação e somando os ângulos em contadores distintos de acordo com os pontos cardeais em que se direcionam de forma que nunca excedam a uma diferença de 270 graus nas somas das viradas à esquerda e direita (o que evidenciaria um ‘loop’) e subtraindo 180 graus que equivale a meia-volta de um dos contadores (direita ou esquerda, dependendo da nova direção), sempre que forem encontradas paredes (barreiras) no final dos caminhos, mas o que fazer quando esses labirintos são do subgrupo de vários patamares? Descendo um dos níveis não podemos contar com a ajuda de astros e todas as somas terão que ser zeradas.
Por sorte perdi apenas uma noite com essa questão, pois logo percebi que Dédalo só poderia construir um labirinto perfeito se pudesse colocar ‘loop’ dentro deles.
Lembro que ‘loop’ é uma situação em que se fica a dar voltas sem fim. Sempre se retorna ao mesmo lugar.
Passei então a desenhar labirintos que pudessem conter ao menos um mísero ‘loop’.
Gastei teimosamente algumas noites para descobrir que é impossível.
Mesmo com labirintos de vários patamares não se pode construir um ‘loop’ dentro. Acredito até que seja possível formular um teorema que comprove isso, mas um simples ‘enunciado’ pode evitar tal esforço.
E arrisquei: A trajetória de um ponto X a Z segue sempre uma linha lógica que conduz um ponto a outro ainda que contenha variante que possa desvirtuá-la, pois do contrário ninguém poderia concebê-la. Isso soa até como um axioma.
E concluí, após algumas noites perdidas, que Dédalo era um enganador, se me permitem o atrevimento.
Não existem labirintos.
Qualquer idiota sai facilmente de uma dessas engenhocas apenas encostando seu ombro direito (dá no mesmo se for o esquerdo) à parede no momento da entrada e nunca o afastar até que chegue à saída. Ou seja: Pode-se sair de um labirinto até com os olhos vendados.
Para quem desconhece esse método sugiro que o experimente nesses labirintos que são encontrados em revistas infantis.
Seguindo esse método nunca se passa mais de duas vezes por um mesmo caminho, donde se conclui que o tempo máximo para encontrar a saída (se estiver azarado suficiente para entrar em todos os corredores fechados no final) é a extensão total do labirinto multiplicado por dois subtraindo o tamanho dos corredores de entrada e final, já que esses só são percorridos uma única vez.
A prisão do Minotauro sempre esteve com as portas abertas então.
Dédalo teria enganado o rei de Creta?
Talvez, mas acontece que se evidenciam crassos erros de observação da parte de Dédalo em toda a história mesmo considerando a distante época em que as ciências ainda engatinhavam, principalmente quanto do conselho ao seu filho Ícaro que, durante o vôo da fuga pelo mar, não subisse a grande altitude, pois o calor do Sol derreteria a cera que ligava as penas das asas.
Ora, cientistas e inventores possuem grande poder observador, sendo até uma condição ‘sine qua non’ para um bom exercício de tais funções. E, lembro, que Dédalo era o maior de seu tempo, tendo sido talvez o primeiro a evidenciar a lei física de ação e reação com a qual concebeu o mastro e a vela.
Como então pode imaginar que quanto mais alto o vôo, em temperaturas mais altas se encontraria?
Claro que em época tão distante era desconhecido que o calor do Sol em nosso planeta tem pouco ou nada a ver com a distância em que Terra e Sol se encontram, mas sim com a angulação com que os raios adentram nossa atmosfera. Por esse motivo é que às doze horas da manhã é sempre mais quente que pelas seis da tarde embora a distância entre ambos seja a mesma nos dois horários. Ao meio dia os raios rompem a camada atmosférica em perfeito ângulo reto em relação à Terra. Circunstância que nunca ocorre nos pólos onde sempre entram numa angulação próxima de 180 graus e por isso tais regiões estão sempre congeladas.
Óbvio, como já disse, que o tempo era muito remoto para que Dédalo disso tivesse conhecimento, mas conceber que altura pudesse resultar em maior aquecimento é não ter o mínimo poder de observação para um inventor de seu quilate já que uma simples olhada para o cume de alguma montanha revela uma neve que não se encontra no sopé. A mesma neve que cai de céus mais próximos ao Sol. Nem quero citar que poderia até ser questionada a plumagem que envolve os pássaros, dos quais ele retira a idéia para seu vôo, que servem para aquecer tais animais em pontos mais elevados, me acredito.
E o que interessa tudo isso?
Sei lá.
Eu precisava me distrair por esses dias que a inspiração tem me importunado.
Não consigo tolerar a inspiração.
Nada pode ser tão maléfico a qualquer exercício que o estro.
Tenho como certo que Flaubert jamais escrevia por inspiração, embora Salambô possa confundir o leitor desatento.
Em Bovary as linhas fluem suavemente sob a pena metódica e meticulosa sem nenhum arrebatamento.
A inspiração furta a arte e favorece o artista.
A finalidade do artista é revelar a arte, todavia, e nunca o contrário.
Chopin busca a magia envolvente dos mares e o encanto do infinito som das ondas que se quebram, e não percebe que no repuxo levam um pouco de sua obra.
Caravaggio pincela as formas em fundo escuro. Não há necessidade de luz artificial para uma bela obra.
A inspiração deixa o artista tolo.
O amor deixa o artista tolo.
A felicidade pode ser tão fugaz quanto intensa.
O homem não é nada perante a obra.
O homem levanta, peca, cospe sobre a grama e morre.
A obra é tudo perante o homem.
Pode ser criticada ou violentada, mas nunca perece. Inútil cavar túmulos para ela.
Desfigurando Dédalo passo a ser o Minotauro.
Jamais, no entanto, alcançarei seu vôo.
Durmo sempre sob teto de zinco.


 
Comments:
Isso e de uma maldade sem fim o povo
brasileiro não e burro nem o lula
semi-analfabeto tanto que deu certo
para os menos favorecidos!
 
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