SOMBRAS SOMENTE

15 novembro, 2006
  POR QUE NÃO NASCI LOPEZ DE VEGA?

Jamais me atrevi a usar a metrificação nos versos.
Esse método deve ficar mesmo para os gênios da escrita.
Eles nascem com esse dom e apenas os desenvolvem no exercício de suas composições.
Para um ser comum, o uso da metrificação, além de ser um trabalho cansativo, devido não ter o talento, o faz desviar do tema central.
Atiro-me então, quando de versos me ocupo, às técnicas livres do Modernismo.
Contudo também não é tão simples assim.
Achar um tema é fácil.
Idéias todos têm.
Dar formas adequadas a essas idéias é onde reside o problema.
Primeiro é necessário definir as rimas. Aonde elas acontecerão.
Se os versos são longos, elas devem estar próximas. Se curtos, podem ser mais espaçadas. Acontece que também se torna necessário em versos longos, recorrer-se de rimas internas. Surge aí então o perigo do que costumo chamar de rimas ilusórias.
Vejam.
'A gente nossa, na casa nossa, se alvoroça'.
Pode soar bem, mas é inteiramente falso.
Em versos curtos, vem o problema de você definir rimas apenas externas, ou uma combinação de externas com pontas internas.
E todos sabem a dificuldade das rimas em pontas internas.
É fácil rimar por fora, mas por fora e por dentro simultaneamente é muito trabalhoso.
A distribuição e composição das estrofes são igualmente relevantes.
Acredito que temas complexos devam ser expostos em estrofes curtas, pois se forem submetidos em detalhes, usurpam a reflexão do leitor. E idéias mais superficiais, necessitam de ‘maquiagens’ para uma melhor estética.
Surge então a sonoridade.
Versos devem ser como músicas, mas aonde se encontram então, os instrumentos  que lhe dão tal aspecto?
Nas letras.
As vogais e consoantes são, se assim posso dizer, a percussão do poema.
É necessário saber distribui-las. Para uma frase ficar mais melodiosa, as consoantes não devam exceder as vogais em mais de dez por cento. E quando o poema é composto com estrofes regulares, faz-se necessário que em todas essas estrofes, as vogais tenham a mesma proporção ou estejam perto disso.
Vejam esse trecho de um poema que compus com estrofes de forma regular, tentando obter um número de vogais não muito distantes, e não inferior às consoantes em no máximo seis por cento.

Amada Noite
Se puder
Envolver em teu manto
As meninas seminuas
Descalças pelas ruas
Alivias o meu pranto
E aumentas meu encanto
Pelas sombras que são suas.
Faça-me isso,
Se isso lhe aprouver.

Estimada Sorte
Se puder
Às mulheres mal amadas
Teu olhar a elas se por
Já que carências de amor
Só podem ser tratadas
Se seu olhar a elas lançadas
Contribuíres com tal favor.
Atenda-me isso,
Se isso quiser.

Senhora Volúpia
Se puder
De teus infestados males
E de seus enganos cantos
De prazeres que são tantos
Imensos e largos como vales
Almas puras, não embales
E não causes tantos prantos.
Peço-lhe isso,
Se isso lhe convier.

Parece mesmo ter causado bom som.
Na primeira estrofe há 74 vogais, na segunda 75 e na terceira 79. Isso fez com que os versos mantivessem  uma média harmônica.

Depois vem a questão da escolha dos sufixos. Definir os critérios para sua seleção.
Nem vou falar disso.
Os problemas realmente são inúmeros, para se obter uma boa composição.
Vamos concluir esse assunto expondo rapidamente as finalizações.
Como fechar um poema?
Como esse tema não é didaticamente analisado, tive que desenvolver alguns tópicos para meu próprio estudo e interesse.
Vou citar aqui apenas duas maneiras de encerramentos que desenvolvi.
O fechamento impactual e o fechamento deslizante.
Alerto o leitor que o vocábulo ‘impactual’ não se encontra em dicionários. É um termo próprio.
Esse primeiro fechamento busca causar um forte impacto nos versos finais. Não deve ser de modo algum perceptível ao leitor a sua presença no decorrer da obra.
Só deve ser utilizado em poemas longos, do contrário sua ofuscante revelação sobressairá por demais ao texto, engolindo-o completamente.
O fechamento deslizante pode ser aplicado em todas as formas.
Sua idéia é lançar palavras como quem joga o último balde de água sobre o pátio que acabou de ser lavado. Já não há obstáculos para algum tipo de choque. Elas, as águas, correm deslizantes sobre o solo já limpo.
Em Fernando Pessoa encontra-se muito desse recurso.
Bom, depois de tudo isso...
Acho que é melhor desenvolver uma combinação de verso em prosa.
É bem mais fácil.
Será?
Ih!
Já começo a encontrar problemas.
 
Comments:
SOMBRAS vc é doido SOMENTE

Mas é bom lhe ler
 
Olha, você está se estressando à toa, mas faz parte de quem pensa. E nisto você é muito bom. Pensar e fazer pensar. Quando quiser resolver este seu problema, faça como o que chamam de "música de sucesso" hoje em dia, cheia de bunda e apelos sexuais desprovidos de nexo: faça rimas ou correlatos, simples e idiotas, com muita bunda, muito sexo,etc. Vão adorar, não importa a forma ou a deformidade que contiverem nos versos, quadras e/ou estrofes (podem até nem enteder o que "são isso?"). De quebra, depois de escrever você vai poder dizer para si próprio, espantado e incrédulo: "realmente este sucesso não é meu. Eu não seria capaz de aderir a esta mediocridade" e, assim, livrar-se de algum resquício de culpa. Mas pode ficar olhando de soslaio ou nem tanto!Vai ser uma folga pra sua cabeça!
Nunca se arrependa de pensar e meter a mão na massa. É muito bom ler o que você escreve.
 
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