SOMBRAS SOMENTE

15 novembro, 2006
  HONRAR A CAMISA?
Esse texto tava lá no fundo dos meus arquivos. Nunca o quis postar.
Peço desculpas se o faço agora com tamanho atraso.



Foi realmente um fiasco a participação brasileira na copa do mundo de futebol, realizada na Alemanha em 2006.
Quando todos esperavam uma participação brilhante, o que ocorreu foi um medíocre desempenho da nossa seleção. E no embate com a França, que naquele dia era agraciada com uma maravilhosa performance de Zinedine Zidane (com direito até a chapéu em Ronaldo, 'O Fenômeno'), o quadrado mágico evaporou-se como num passe encantado.
Levamos um baile.
Ouso dizer que o placar foi até injusto. Merecíamos levar pelo menos mais dois gols.
E a derrota, totalmente inevitável, trouxe consigo a tempestade habitual.
Toda a imprensa tupiniquim escrita, falada, televisionada, internetizada, idiotizada, caiu em cima de nossos atletas com uma voracidade que não se encontra em assuntos mais importantes.
“UMA VERGONHA”.
“FALTOU AMOR A PÁTRIA”.
“NÃO HONRARAM A CAMISA DA SELEÇÃO”.
Deu-me ânsia de vômito.
Não pela derrota, mas pelas críticas.
Procurei me colocar no lugar de um desses atletas em tal situação para entender como poderiam estar reagindo perante essas acusações.
A primeira e mais provável (compreensível, até) reação que eu poderia ter, seria: 'Que vão todos para as merdas. Não devo nada a ninguém, não estava jogando de favor e se não soubesse jogar bola talvez estivesse numa penúria igual a da grande maioria dos brasileiros, e a dita cuja camisa estava igualmente me mandando para essas merdas, como sempre faz'.
Mas vamos analisar com mais calma e frieza.
Honrar a camisa? Pensei.
A única coisa que tenho que honrar, como em qualquer outra profissão, é o meu salário, único responsável pelo sustento da minha família. E, convenhamos, quando estou atuando pela Confederação Brasileira de Futebol, os proventos não são muito compensadores em relação aos ganhos em clubes, principalmente europeus.
Na verdade, os benefícios financeiros são minguados e a atuação serve apenas por ser uma espécie de vitrine para o mercado externo.
Quem fica mesmo com a bolada são os dirigentes esportivos.
Mas não vou aqui criticá-los.
Longe de mim tal idéia.
Que comam o peru e deixem ao povo o sobrecu.
Continuando...
Por que eu é que tenho que honrar esse país, quando os seus próprios governantes o desonram e ninguém diz nada?
Esse país que não honra sequer seus compromissos básicos e constitucionais como saúde e educação, e todos se calam.
Mobilização nacional pela falta de vergonha na política, então nem pensar.
Procuro encontrar um só argumento que favoreça essa tese de honra e não encontro.
Analisemos.
Ele não está ali de favor.
Ele não está vestindo tal camisa por uma consideração toda especial dos governantes nacionais, mas sim pelo seu próprio talento e esforço.
E que bosta, é só uma partida de futebol e não a Guerra do Peloponeso.
Perder ou ganhar não altera em nada a situação do país.
A situação da imensa maioria dos brasileiros que vivem numa merda de dar inveja a qualquer hiena de mesa farta, não vai mudar em nada.
Talvez uma vitória até ajude a piorar, pois mais ufanismo, mais alienação.
Uma copa do mundo não vai nos trazer um atendimento adequado na saúde pública, ou melhores escolas e salários decentes. As crianças vão continuar abandonadas, os idosos desprezados, enquanto uma minoria vai continuar a viver no regalo de orgias dionisíacas com as mais caras meretrizes, tudo pago com o dinheiro dos fanáticos torcedores.
Honrar a camisa, por que?
Jogador de futebol é uma profissão igual a qualquer outra, meu caro leitor.
Deve-se jogar apenas em seu próprio beneficio e da sua família. Não é assim em qualquer outra profissão? A seleção brasileira não é um órgão público de desenvolvimento e nem os profissionais que a compõem são eleitos por um sufrágio como são nossos dirigentes e muito menos são cobrados.
Se esses atletas não soubessem jogar bola, e talvez hoje nem tivessem o dinheiro do leite dos seus filhos, já que a maioria é oriunda de favelas, e ninguém, nem governo, nem fdp nenhum os ajudaria.
E faço aqui um apelo a todos que me lêem: Em vez de cobrar, de quatro em quatro anos, aos nossos atletas que nos tragam a tão almejada taça mundial, passemos a cobrar todos os dias que nossos governantes tenham um desempenho realmente adequado em suas funções.
E sem essa frescura de honrar a camisa.
É o Estado quem deve honrar seus cidadãos, não o contrário.
 
Comments:
Temos muito o que aprender com os franceses.
Mas não me refiro ao ¨Le Monde¨, Zizú , Henry e cia... e sim aos franceses,ao povo da França,aos estrangeiros ¨franceses¨, os revolucionários, os rebeldes, os manifestantes, os estudantes...que além de amarem Zizú, amam também seus diretos...
 
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