13 outubro, 2006
O EMAIL ENVIADO AO JÔ SOARES
Jô Soares
Assistindo ao programa de ontem, o ouvi dizer que uma das palavras mais bonitas da língua portuguesa (beleza contida no som, e não no significado) é IMPOSTO.
Foi essa mesma que você escolheu, não foi?
Não pude deixar de discordar.
Penso nessa incomodante besteira desde que tinha uns dez anos de idade, e muitos invernos depois, ainda não me decidiram sobre a mais bela.
Todavia, a que me parece ter uma melhor sonoridade é ICONOCLASTA.
Observe como parece soar como música, embora tenha um sentido razoavelmente danoso.
SERENDIPITIDADE - Uma palavra difícil de ser encontrada em dicionários populares, tem o mérito de utilizar várias flexões labiais numa espécie de média harmônica.
Já IMPOSTO, mesmo causando um certo prazer aos ouvidos, ao mesmo tempo parece dar um efeito de colagem, ou algo assim. Quando pronunciada, me faz sentir como se as sílabas fossem grudar nas paredes, o que tira um pouco o seu brilho.
Observe agora, outras sensações possíveis de sentir em alguns vocábulos.
Escorregadias (NECESSIDADE), pomposas (CONCLAMAÇÃO), sólidas (ABRUPTO), enjoativas (PEITO), suaves (XOXOTA), intrigantes (ESDRUXÚLO), delicadas (VAGINA) ou cerimoniosas (INCONSTITUCIONAL).
A lista seria enorme e não quero roubar seu precioso tempo. Deixe-me apenas discorrer sobre algumas que causam péssimos efeitos sonoros, mas, quiçá, não devam ser consideradas como as mais feias.
SEBORRÉIA - Você pronuncia e logo baixa a cabeça para verificar se uma baba acompanhou-a e melou todo o carpete.
BUCÉFALO - O nome do cavalo de Alexandre, o grande. Assim que você solta a palavra, instintivamente cerra os lábios, devido à impressão de que pequenas bolhas cheias de saliva possam sair junto e serem explodidas na cara do seu interlocutor.
CÚ – Não chega a ser um vocábulo desprezível, mas é tão carente de qualidades, tão simplório, que nos faz imaginar que é melhor ver do que ouvir.
DIGRESSÃO – Costuma proporcionar o desejo de dar um tapa na pessoa que proferiu.
E assim vai.
¶ 3:31 PM 
Jô Soares
Assistindo ao programa de ontem, o ouvi dizer que uma das palavras mais bonitas da língua portuguesa (beleza contida no som, e não no significado) é IMPOSTO.
Foi essa mesma que você escolheu, não foi?
Não pude deixar de discordar.
Penso nessa incomodante besteira desde que tinha uns dez anos de idade, e muitos invernos depois, ainda não me decidiram sobre a mais bela.
Todavia, a que me parece ter uma melhor sonoridade é ICONOCLASTA.
Observe como parece soar como música, embora tenha um sentido razoavelmente danoso.
SERENDIPITIDADE - Uma palavra difícil de ser encontrada em dicionários populares, tem o mérito de utilizar várias flexões labiais numa espécie de média harmônica.
Já IMPOSTO, mesmo causando um certo prazer aos ouvidos, ao mesmo tempo parece dar um efeito de colagem, ou algo assim. Quando pronunciada, me faz sentir como se as sílabas fossem grudar nas paredes, o que tira um pouco o seu brilho.
Observe agora, outras sensações possíveis de sentir em alguns vocábulos.
Escorregadias (NECESSIDADE), pomposas (CONCLAMAÇÃO), sólidas (ABRUPTO), enjoativas (PEITO), suaves (XOXOTA), intrigantes (ESDRUXÚLO), delicadas (VAGINA) ou cerimoniosas (INCONSTITUCIONAL).
A lista seria enorme e não quero roubar seu precioso tempo. Deixe-me apenas discorrer sobre algumas que causam péssimos efeitos sonoros, mas, quiçá, não devam ser consideradas como as mais feias.
SEBORRÉIA - Você pronuncia e logo baixa a cabeça para verificar se uma baba acompanhou-a e melou todo o carpete.
BUCÉFALO - O nome do cavalo de Alexandre, o grande. Assim que você solta a palavra, instintivamente cerra os lábios, devido à impressão de que pequenas bolhas cheias de saliva possam sair junto e serem explodidas na cara do seu interlocutor.
CÚ – Não chega a ser um vocábulo desprezível, mas é tão carente de qualidades, tão simplório, que nos faz imaginar que é melhor ver do que ouvir.
DIGRESSÃO – Costuma proporcionar o desejo de dar um tapa na pessoa que proferiu.
E assim vai.
